Vagas de garagem. Estamos no rumo certo?

Assim como hoje criticamos os edifícios antigos que não previam a imensa demanda por vagas de garagem, poderemos daqui a alguns anos criticar os excessos cometidos nas últimas décadas. Como assim? Todos sabemos o valor que uma vaga representa para um imóvel, seja ele comercial ou residencial. Atualmente não é raro alguns apartamentos com seis ou até dez vagas. Sem dúvida, um enorme diferencial na era do glamour do automóvel.

 
Essa provocação não pretende questionar o mercado, sempre soberano, nem tampouco concordar com as propostas de redução de vagas constantes de alguns planos diretores municipais. A proposta é refletir por quanto tempo a cultura de possuir vários carros vai perdurar.

 
Na era da economia compartilhada, onde o lema é “quero usar, não quero possuir” já não são raras as pessoas que estão abrindo mão dos seus veículos próprios. Nos países altamente desenvolvidos da Europa e no Japão, a compra de um carro deixou de protagonizar o desejo dos jovens. Qual é o recado?

 
Sem dúvida, transformações profundas estão em curso, inclusive no Brasil. A indústria automobilística está diante de um enorme desafio. Além da queda nas vendas, das mudanças no comportamento dos seus consumidores, terá que se adequar às questões ambientais e da mobilidade, implicando no fim dos motores a explosão e no tamanho e automação dos veículos atuais. O que isso tem a ver com o mercado imobiliário?

 
A questão é que estamos construindo prédios com 3 ou mais andares de vagas cobertas. Em alguns empreendimentos encontramos verdadeiros parques de estacionamento. O que fazer com essas áreas se uma dia ficarem ociosas? Talvez o caminho não seja limitar as vagas, como pretendem as conferências urbanas, mas de projetá-las de forma que possam acomodar outra utilização no futuro. Com as configurações atuais, pé direito de 2,5 metros e baixas condições de habitabilidade, restarão apenas como um grande peso na taxa de condomínio.

 
Assim como nos edifícios autossustentáveis, merecidamente valorizados, precisamos rever os projetos das nossas garagens.

 
Ariano Cavalcanti de Paula